26 fevereiro, 2011

James Nachtwey

Deus está morto,
ele suicidou-se na
manhã seguinte
quando compreendeu
o que havia criado.

25 fevereiro, 2011

Ode ao Peripatus

Um vermiforme terrestre
E bilateral segmentado,
Onicóforo aveludado,
Em balística perito-mestre
Cuja peripécia é lançar jatos
Em desavisados vaga-lumes
Que ele devora grudados
Em suas caçadas impunes.
Em nossa metade austral
É um perilustre animal,
Sendo da noite voraz
Um tigre das miudezas,
De longa barriga lilás
E vinte pares de pernas.
A ti que levas nome honrado
De aristotélica síntese,
Faço-te esta perífrase,
Peripatus ou Perípato.
Se quisesse a periegese
De onde vive o Peripatus
Nem lhe faria a perístase,
Bastando citar os estratos
Sob as folhas sobre o chão
Dos mais aquosos matos
Sob arbórea formação,
E ainda com sorte avistado
É seu delgado dorso azul
No mais escuro perídromo
De suburbano perímetro
Em nosso hemisfério sul.
Distribuído perigual,
Possui parentes períscios,
No perímetro meridional
Australianos periecos.
Pratica amor assim exótico,
Sem orifício específico,
Toda a amada é alvo profícuo,
Seu melhor objetivo erótico.
Tu que venceu perigos,
Remanesceu remotos períodos,
E sofre a perigosidade
Em que periga em perecer
Por culpa de humanidade,
Não te deixarei esquecer,
Pois ainda que perituro
Ou que recorra a perícope,
Podes saber que juro
Que contra o Homem míope
Peripatetizarei sobre ti,
Fenômeno da biologia,
Resumo da vida em si.
Só perdoe a periergia,
Mas quando o périplo fazes
De qualquer vulgar periferia,
É de tal elegante peristalse
Que periclito em perissologia.

23 fevereiro, 2011

Os peixes

Dizem que os peixes nunca param de crescer. Mesmo quando estão muito velhos eles ainda continuam crescendo, bem devagar, seu metabolismo diminui, e eles ficam no fundo dos rios, aqueles peixes enormes, seculares, arfando as guelras num contínuo movimento de fole, assoprando a vida para dentro, aspirando a inteligência dos rios, crescendo, crescendo, bem devagar... Então eles morrem, enormes, muito sábios.

19 fevereiro, 2011

Carnal

Seu corpo, querida,
é carne
Meu corpo é carne
também
Sessenta e cinco quilos
de carne
Somos só mesmo
carne
carne
carne
nada mais
Da sua faço
alimento
É carne caça
quando eu a persigo
É carne escassa
seus ossos empurrando a
pele
Mas é muita
nessa sua mania de
regime
É ousada, e você pede:
me come!
Sua carne é
nossa carne em
seu peso
que meu corpo
sustenta
É carne frouxa
quando envelhece
E sintética
se você pôr mesmo o tal
silicone
Sua carne declina
se descobre uma
celulite
Deprecia
se procuro
outra carne
Mas valoriza
quando sinto
saudade
Assim funciona o
mercado da
carne
Sua carne foge de mim
se eu esqueço do
aniversário
É carne ilícita
se eu a
estupre
Um alvo
se eu lhe
ejacule
E alva
se desistimos da
praia
Por fim,
sua carne é finda
no seu corpo que eu
sepulte
Sua carne é
minha
carne
Carne de segunda
Carne de todo dia
Carne que eu
mastigo,
engulo,
digiro,
vomito
e como de novo.