27 outubro, 2010

Os escritores e suas bundas



Todo escritor, que mereça ser chamado assim, sabe que se escreve muito mais com a bunda que com qualquer outra parte do corpo. É sentando horas seguidas em frente à folhas em branco (leia-se páginas do Word) que se consegue alguma coisa mínima que seja para se chamar de literatura, boa ou ruim, tanto faz. É tanto que a maioria vai com o tempo ficando encurvados, alguns também ficam gordos, e de bunda chata. Eu tenho feito o possível para não ficar assim, e outro dia ouvi o elogio de que minha bunda está bem, o que me deixou satisfeito com o resultado das cansadas corridas que faço três vezes por semana. Mas também me deixou na dúvida se sou mesmo um escritor, já que não possuo o apanágio dos escritores: a bunda quadrada. Mas um pensamento me salvou: Bruna Surfistinha. Convenhamos, ela tem uma bunda bastante elogiável. E é escritora, certo? Assim como Virginia Woolf e Hemingway, que eu não sei como tinham as bundas. Não é? Hein? Ufa, que alívio!

23 outubro, 2010

Quase

Diz que foi no sul de Minas, que a moça tentou se matar com um tiro no peito depois que o noivo terminou com ela.

Morreu?

Não. Quase. Errou. E passou a vida apelidada de ruim de mira.

17 outubro, 2010

Receita de Bolo Abstruso

Perguntaram o que eu penso da censura à imprensa no Brasil de Lula. Aí vai:

½ xícara de óleo em pó
3 cenouras médias cortadas em pedaços grandes em um processador pequeno
4 ovos ralados
2 xícaras de chá de porcelana de presente de casamento de açúcar
2 e ½ xícaras de farinha de trigo para três tigres tristes
1 colher de sopa de fermento biológico, escatológico e analógico em pó

cobertura:

1 colher de sopa de manteiga de leite de burra
3 colheres de sopa de chá de caldo de geléia de creme de chocolate em pó
1 xícara de açúcar da Colômbia com no mínimo 20% de pureza
1 frasco médio de Biotônico Fontoura

Reserve os tigres e o fermento. Bata no liquidificador a cenoura com os ovos e o óleo, acrescente o açúcar e bata por uns 5 minutos, ou até se cansar, ou até ele pedir clemência. Depois misture lentamente o fermento, mas lentamente mesmo, de preferência nem misture. Asse por 40 minutos ou o tempo médio que dura um discurso de deputado homenageando poeta morto que ele nunca leu. Para a cobertura misture todos os ingredientes, leve ao fogo até virar uma calda e espalhe por cima do bolo. Sentado no chão da cozinha raspe e coma o que sobrar da cobertura com uma colher de pau enquanto ainda estiver quente, tenha dor de barriga, e só durma no próximo mês graças ao açúcar colombiano. Beba o Biotônico para crescer fortinho.

Dizem que Fernando Sarney come de se lambuzar!

PS: O Google sugere: Consulte resultados traduzidos do inglês para: imprensa Lula (calamari press)

15 outubro, 2010

Update borgiano

Uma criatura nova que Borges esqueceu de catalogar em seu O livro dos seres imaginários:

Dilmáquio Rousseffalion

Segundo a mitologia brasileira contemporânea existe determinado ser que possui a capacidade singular de lentamente rejuvenescer o seu rosto, também sabe aparentar ser tanto crente como herege, dependendo das vantagens da situação. Esse seria o Dilmáquio Rousseffalion. Certas fontes dizem que tem intenções de arrancar os fetos das barrigas de suas mães com o interesse de deles se alimentar, outras, porém, afirmam que apenas deseja libertar as mulheres do peso imposto pelos dogmas de outras crenças baseadas também em seres imaginários, como Deus. Há quem diga que conspira com a ajuda de outras entidades assemelhadas para roubar o ouro dos homens, outros que quer distribuir o ouro entre os menos afortunados. Consta que em tempos passados já foi um guerreiro revolucionário. Sobre uma criatura tão incerta sabe-se muito pouco. Na hierarquia da zoologia fantástica está logo abaixo do Dirceodonte que por sua vez é inferior ao Lulicórnio de nove dedos. Seu arqui-inimigo é um vampiro de olhos profundos cujos dentes são de Serra.

09 outubro, 2010

John Lennon setenta anos

John Lennon faria hoje setenta anos, na época em que ele morreu, com Vietnã recente e tudo o mais, já era difícil acreditar na idéia de uma humanidade progredindo. Mas hoje, com toda a ignorância se repetindo quase das mesmas formas, com teocracias se impondo, e manobras políticas de intolerância étnica feitas para agradar à crescente direita extremista idêntica à que protagonizou alguns dos piores massacres do século XX, e até vindas hoje dos povos que sofreram com tal, a mesma fome e um monte de outras guerras iguais às de sempre, embora a água contaminada ainda mate mais crianças que todas as guerras juntas, isso em tempos de genoma sequenciado e clonagem já virando rotina, com tudo isso dá mesmo para pensar em progresso verdadeiro se somos ainda governados pelos mesmos conceitos e medos pré-medievais e o que fazemos de novidade são apenas computadores mais leves?


07 outubro, 2010

Hora-certa

Hora-certa era um mendigo que não se destacaria de nenhum outro se não fosse por uma mania: acompanhava todos os enterros no cemitério, religiosamente. Era o folclore da região, juntava a molecada para ver Hora-certa chorar o morto – e ele chorava bem, pesaroso e inconformado. Tinha até quem brincava com ele: Quando eu morrer quero te ver lá, Hora-certa.

Quando morreu o ex-prefeito, figurão famoso, os parentes não quiseram deixar Hora-certa assistir. Assim que ele apontou na rua, foram fechando os portões do cemitério. Chegando ao portão fechado ele olhou, margeou o muro, espiou pelas grades e voltou a esperar do lado de fora. Quando viu que ninguém ia abrir para ele, gritou:

– Enfia esse defunto no cu! – e foi-se.