28 setembro, 2010

De noite, no quartel

Você sabe que é quando eles perdem o medo das armas que os acidentes começam a aparecer. Até o primeiro mês nada. Depois os soldados gostam de ver as balas pularem. Eles ficam sentados sem ter o que fazer puxando o ferrolho do fuzil pra fazer elas saltarem por cima da perna. Volta e meia essas merdas disparam sem querer. É por isso que a gente grita com eles e xinga a mãe deles, pra eles não relaxarem. Porque é quando eles começam a ficar íntimos das armas que os acidentes acontecem. De vez em quando esquecem que está carregado e morre um.

Ano passado era um soldado que estava detido na cadeia do quartel, por qualquer coisa, uma merda qualquer, e tinha um outro do lado de fora montando guarda que disse, pra tirar uma com a cara do soldado preso, que iria soltá-lo aquela noite pra ele ir ver a namorada. Sabe o que o cara fez? Deu um tiro no cadeado. Segurou o cadeado na mão, apontou a pistola e atirou. Como nos filmes, sabe? Como eles fazem pra arrebentar cadeados nos filmes. Só que com o cadeado na mão. É claro que ele estourou a mão toda, quase tiveram que amputar. E foi reformado sem direito a merda nenhuma por causa disso. Um rapaz novo, até gente boa, mas cabeça fraca. Onde já se viu, segurar o cadeado na mão e atirar.

Um comentário:

  1. Antigamente , lá no Carmo tinha um rapaz que gostava muito de ler historinhas de cowboys. Um dia foi enfrentar uns assaltantes que tinham fugido pelas redondezas . Arreou o cavalo e foi. Tomou um tiro na cara e morreu velho com o apelido de Popeye. Acho que nunca mais leu historinhas...

    Abração ,

    Luiz Felipe

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