07 maio, 2011

Claustro

Foram jogados ali sem muito saber porquê. Naquela época não custava nada ir parar num lugar como aquele, um dos vários que havia – os tempos eram outros.

A antiga porta fechava como um cofre, entre o metal e as pedras da parede o lodo vedava hermético o ar. O postigo que um dia permitiu ao carcereiro, avô do de então, inspecionar os presos há tanto não era aberto que a ferrugem agora impedia que aberto fosse. As duas chapas de ferro que formavam a porta, rebitadas nas beiradas com uma bruteza que não se usa mais, não deixavam esperança de algum respiro cavado pela ferrugem ao longo dos anos, menor que seja.

Só havia na cela uma pequena entrada de ar, um buraco na parede, uma pedra que faltava, por onde fluía um estreito feixe de vento que sustentava ao máximo duas pessoas, e que dava não para fora, mas para um outro cômodo de onde não entrava luz quase nada, quem estava trancado não sabia ao certo se era dia claro ou noite.

Os cinco ali dentro fechados, aos poucos gastando o oxigênio do quarto, sentiam cada um que o ar que entrava era ralo, que não dava, rarefato demais. Puxavam com força corpo a dentro pela boca e nariz escancarados (e se pudessem também respirariam pela pele), mas o efeito era pouco, como uma água que por mais que se beba nunca que mata a sede, a sede urgente de ar. Tinham dores de cabeça que apertavam dos lados e por trás dos olhos, o corpo pesado mais que o dobro.

O maior se revoltou – gritava o carcereiro. Outros dois também se levantaram, manifestaram murros na porta que repercutiam em uma súplica surda. A menina e o velho haviam se resignado. O velho sentado com as costas na parede abriu os botões da camisa velha, a menina abraçou as pernas e descansou a cabeça nos joelhos ralados ainda há pouco. Fazia um calor desumano. Os três que se rebelaram estavam vermelhos, veias saltavam nos pescoços e nas têmporas. O suor aguava o chão.

O maior começou a ficar zonzo. Os outros chutavam a porta até os pés sangrarem. A cela parecia estreitar e inflar alternando uma pressão nos ouvidos com uma sensação de queda suave...

Pela manhã, quando o carcereiro veio ver como estavam, encontrou os três caídos, bocas e olhos abertos, o rubor nos rostos desaparecera junto com a vida. O velho e a menina dormiam, quase desmaiados. Vivos ainda.

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