10 setembro, 2010

Poema para os poetas que não chegaram lá

E agora, José?
E agora, Raphael?
E agora, João?
E agora, ambição?
Drummond morreu pobre.
Bandeira, remediado.
João Cabral só não morreu pobre porque foi diplomata.
Você vai morrer pobre?
Porque, convenhamos, diplomata você não vai ser.
Então, como faz?
Aprende cirurgia?
Tenta a loteria?
Insiste em veterinário?
Vira funcionário
público?
E então, como faz?
O dinheiro acabou,
o mês, ainda não.
O leite sobrou,
mas já era o pão,
cujo preço, não cabe neste poema.
Ferreira Gullar escreve pra Folha.
Você não imprime,
pra economizar folhas.
Paulo Leminski dava aula em cursinho.
Mas você tem medo de dar aulas.
E também ele falava latim,
e tudo se resolve mais fácil pra quem fala latim.
Você nem o inglês sabe direito.
Vá tentar a vida em Pasárgada,
onde você não é chegado nem de um vereador.
Você vai mesmo é acabar que nem aquele bicho,
aquele que era um homem, meu Deus.
Você, que nem em Deus acredita.
Ah, Raphael... você nunca vai ter jeito!

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